sexta-feira, agosto 26, 2005

No próximo ano, nova tragédia está garantida

Todos os anos, dantescas cenas se repetem por todo o país.
Até ao dia de hoje, eram já, cerca de 200 mil hectares de matas e dezenas de casas queimadas.

São milhões de euros de prejuízos. É o gado, a caça dizimada e as culturas destruídas. São inúmeras, as espécies florestais únicas, aniquiladas pelas chamas. São famílias que ficaram, de um momento para o outro sem nada. Mas, pior que tudo isto, são já as muitas vidas que se tem perdido.

E, todos os anos é a mesma coisa.... As desculpas, são também as mesmas; “É o clima, as altas temperaturas e os incendiários inimputáveis”.

É triste... e já cansa de ouvir sempre o mesmo e no próximo ano, se não forem tomadas medidas sérias, corajosas e eficazes, e os culpados não forem severamente punidos, nova tragédia está garantida...


VIANA DO CASTELO: Moradores, observam o incêndio que lavrou durante vários dias, na encosta do monte de Stª Luzia. antes de serem evacuados. Só no distrito de Viana do Castelo, 70% da sua floresta, foi destruida pelo fogo

O último trovador

PEDRO BARROSO




Pedro Barroso nasceu em Lisboa em 1950, mas vive desde os primeiros meses da sua vida em Riachos, uma pacata e simpática vila ribatejana.

Pedro Barroso, nos seus espectáculos, canta-nos os seus temas de sempre - a mulher, o mar, a natureza, os tipos humanos, a solidariedade, o amor e a portugalidade... em suma, espectáculos cultos, dignos, fortes e emotivos, com uma relação muito especial com a assistência.

Encontrámo-lo por aí, num dos muitos concertos de verão, ou “encontros de amigos” como ele gosta de lhe chamar. Foi em Terras de Bouro no Minho, onde teve uma recepção apoteótica, numa praça cheia, de uma assistência atenta e conhecedora da sua obra, que vibrava, a cada acorde da sua guitarra.



Manuel Araújo (*)




O que pensa do actual panorama da música portuguesa ?


Os artistas não são seguramente menos importantes que os médicos, ou os políticos, para a construção do conceito de País. Se considerarmos a projecção do acto cultural no meio nacional, acharemos até que o Artista se substitui muitas vezes ao Estado em acções que, embora de âmbito profissional, são inequivocamente pedagógicas, educativas e divulgadoras de cultura.
Em muitas aldeias, por vezes, se não fosse a Festa Anual, paga do bolso dos próprios habitantes, não haveria outra oportunidade de ver espectáculo, cantores, músicos, instrumentos musicais, teatro, numa palavra - Festa. E as referências culturais seriam seguramente menores.

Depreende-se das suas palavras, que a situação não é das melhores.

Em Portugal, a situação tem vindo a degenerar-se, em termos de auto-estima nacional. As embaixadas e visitas de estado, levam empresários e poucos, raros e sempre os mesmos artistas.

Explique melhor...

O Manifesto incluso no meu site www.pedrobarroso.com, explica mais detalhadamente, este beco de desautorização e menos auto-estima em que nos fomos enfiando, desde há uns anos a esta parte.

Porque será ?

Um enigma. Com soluções à vista, mas do foro judiciário. Tem-se tentado não investigar, mas ainda recentemente, as grandes multinacionais nos USA foram indiciadas por controle das rádios. Aqui, como habitualmente, o caso é complexo fere muitas susceptibilidades e não se avança...

E os Governos ?

Os governos proclamam solidariedade com os músicos, mas não existe classe mais descartável após os momentos apertados das eleições, em que sempre são necessários e úteis.
Em Portugal, o acesso à música é facilitado ?
O disco é cobrado com IVA como um luxo; os instrumentos musicais; o ensino da música etc. Um país culto e aberto às artes advoga uma facilitação total para que os seus filhos aprendam artes. Aqui é um esforço suplementar que os pais tem de fazer para que os seus filhos aprendam música, a retirar do orçamento familiar sem quaisquer subsídios...

Quem se ouve na rádio e televisão ?

Nas rádios passam-se invariavelmente os mesmos nomes.

Quem são ?

Sempre os mesmos não vou dizer quem - é só ouvir.... Estranho, não? Neste momento nem Zeca Afonso; nem Amália sequer. Na Antena Um, a programação é destinada ao que parece, a um target de 30 anos, música moderna, chamam-lhe. E depois, só passam discos de umas duas ou três editoras, porque será? Será que todos os restantes artistas portugueses desapareceram ou nunca existiram?

Já actuou em toda a Suíça ?

Lembro com grande saudade e muita ternura todas as deslocações á Suíça, mas até hoje, circunscrevi-me infelizmente a Zurique e Geneve. Tenho uma ligação muito forte com a Comunidade residente e fiz a inauguração do Café Literaire Fernando Pessoa . Possuo bons amigos que gostaria de rever. Alguns mandam-me prendas pessoais, palavras bonitas.

Chegou então a hora de voltar a actuar em terras helvéticas ?

Creio sim senhor que esteja na altura de voltar, para fazer o tal concerto maior, com a dignidade requerida. É tempo, dessa comunidade não se contentar com menos e fazer as coisas como deve ser - num Auditório , aberto a todos - suíços, portugueses, ou quem quer que seja... - só assim abrimos, divulgamos e dignificamos as portas da nossa cultura maior. Fico por enquanto a aguardar...


(*)Entrevista e fotos








Encontro de amigos no camarim.


Pedro Barroso

Percurso de mais de 35 anos



Em 1969 estreia-se no célebre programa Zip-Zip, dos mediáticos Carlos Cruz, Raul Solnado e do saudoso Fialho Gouveia.

Em 1970 publica o seu primeiro disco “Trova-dor” e entra na Companhia do Teatro Experimental de Cascais onde participa como actor, músico e cantor em várias peças. Produz entretanto alguns programas para Rádio e Televisão (“Musicarte”, “Tempo de ensaio”, etc.).

Embora por norma ande arredado dos grandes centros de decisão e insista em viver no campo, retirado das tertúlias tem gravado com grande regularidade, ao longo de mais de 30 anos de carreira.

Recebeu até hoje vários prémios nacionais e internacionais tais como prémio para a melhor canção de 1987 (Menina dos Olhos d’água), o Prémio Directíssimo; o Troféu Karolinka (Festival Menschen und Meer, RDA 81), diploma de mérito da Secretaria de Estado do Ambiente (88); Troféu Lusopress (Paris 93) e ainda o título de “Ribatejano Ilustre” atribuído pela Casa do Ribatejo (94).

Cantou até hoje em praticamente todo o território nacional e ainda em Espanha, França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Alemanha, Suécia, Inglaterra, Canadá, Brasil, Hungria, Macau, Estados Unidos e Suíça.

Com a atribuição a José Saramago do prémio Nobel da Literatura em 1998, torna-se num dos muito poucos autores que com ele partilha obra publicada - canção Afrodite (in LP Água mole em pedra dura, 1978).

Continuando, com regularidade, os registos e concertos, publica em 1999 o CD “Criticamente” e em 2001 o CD “Crónicas da Violentíssima Ternura”.
No Natal de 2002 editou um CD, de seu título genérico “De viva voz” que regista ao vivo temas gravados em pontos vários nos últimos cinco anos e que, embora com a qualidade técnica permitida pelas circunstâncias, se converte num documento único de grande valor como memória de um estilo bem pessoal e da emoção vivida em palco em alguns momentos.

A par com uma fecunda discografia como autor e compositor (cerca de 30 discos editados, entre Ep’s, singles, LP’s, CD’s, Antologias várias e discos colectivos), tem publicado também poesia; “Cantos falados” em 1996, que reúne toda a sua poesia - de canção e não só, em 2003, publicou o livro “das Mulheres e do Mundo”.
Como artista plástico amador, usa o heterónimo Pedro Chora e, como tal, tem exposto desenho e escultura em várias Galerias.

Considerado como um dos últimos trovadores de uma geração de coragem que ajudou pela canção a conquistar as liberdades democráticas para Portugal, continua a constituir-se como uma alternativa sempre diferente nos seus concertos, repletos de emoção e coloquialidade.

Celebrou no ano de 2004 o seu 35º aniversario de autor poeta e compositor lançando o CD “Navegador do Futuro” da Ed. Ocarina, com actuações de norte a sul de Portugal.
Mantendo uma preferência especial pelos concertos ao vivo, neles continua evocando os seus temas de sempre - a mulher, o mar, a natureza, os tipos humanos, a solidariedade, o amor, a portugalidade...

Talvez por isso, convidar Pedro Barroso para uma actuação significa optar por um espectáculo culto, digno, forte e emotivo, com uma relação muito especial com a assistência.

quinta-feira, agosto 25, 2005

PEDRO CHORA - artista plástico

















De seu nome completo, o homem responde administrativamente como António Pedro da Silva Chora Barroso.

É, enquanto tal, autor, criador, buscador do belo e da alma das coisas.

A sua face mais conhecida é como Pedro Barroso, músico, poeta e autor-compositor. Homem de silêncios, denúncias e compromissos.

O nome Pedro Chora é o que escolheu para aparecer, sempre que se trata de exibir em qualquer parte a sua faceta de artista plástico amador.

Pintura, desenho, escultura... são hobbies que cultiva como quem levanta a cabeça do papel e dos teclados e descobre um mundo fascinante que não se descreve, apenas se respira e nos transcende.

Não pretende hostilizar ninguém na área em que é o mais humilde aprendiz de feiticeiro.

A sua arte, se alguma houver, é a de juntar música e palavras há 35 anos.

Mas, a espaços, lá vai fazendo e guardando desenhos.

Coisas que faz entre os versos.

Exorcismos sobre o Mundo. E a Mulher, seu tema de sempre.

Desenhos pré-versos, parece portanto um nome genérico bem adequado a esta exposição.

Considera que nesta área a sua maior aprendizagem foi ouvir, ver e conviver com os que sabem.

Teve um convívio íntimo especial e privilegiado com o Mestre Martins Correia, de quem foi amigo, discípulo e confidente durante muitos anos. Esse conviver com tal genialidade marcou-o para toda uma opção estética de vida.

A sua amizade com Alfredo Luz, Manuela Pinheiro, J. Mouga, António Sem, Ana Paula Jesus, José Coelho e tantos outros foi sempre, também, um modo de aprender a ver e a sonhar.

Expõe apenas de longe em longe, e gosta mais de distribuir trabalhos pelos amigos que de os expor de uma forma mais institucional. Com efeito, esta é - pelo menos em exposições a solo e a sério - a exibição mais completa dessa "faceta" e constitui, decerto, um ponto muito marcante e quase insólito na sua carreira de comunicador e de artista multifacetado.

Expôs até hoje apenas por duas vezes em Riachos em Mostras Colectivas por ocasião de duas Festas da Benção do Gado (1993 e 2000); na Galeria Municipal da Chamusca (93); na Galeria Fonte Nova em Lisboa (89).

Só agora surgem estes Desenhos pré-versos na Galeria Municipal de Abrantes (2004). Com pompa e circunstância.

Digamos que está, não obstante, representado em várias colecções particulares e que já teve um programa na RTP dedicado exclusivamente à sua faceta de escultor amador em 1993.

Nada mau para um simples...músico, cantor e poeta.

Duas palavras sobre esta exposição.

Avulta aqui a transgressão. Sem norte, nem estilo, nem escola definida.

Para que nunca esqueçam os lados mais imersos do poema, da sensualidade e do fantástico.

As coisas que, afinal, dão gozo à existência e dotam a vida de motivos e intenções.

Brincadeiras de criança grande.

A seriedade segue dentro de momentos, promete-se com devida solenidade.

Ou não.

Pedro Barroso



Obs: pedi ao Pedro Barroso para escrever este texto. Muito obrigado por isso. Eu não saberia fazê-lo.


Pedro Chora

quinta-feira, agosto 11, 2005

Agradecimento público

(caso dos invisuais, José Silva e filha Margarida - Caldelas)




Aquela imagem do pai a chorar, porque não tinha dinheiro para operar de urgência a filha, já cega de um olho e com o segundo quase cego, tocou-me profundamente.
Naquela noite, não consegui adormecer e escrevi um artigo emotivo, o qual deu os frutos já conhecidos, reconheço, que houve coisas, que correram menos bem, mas hoje, voltaria a fazer exactamente o mesmo. Era uma corrida contra o tempo, a Margarida estava prestes a cegar.

Hoje sinto-me feliz, sei que o meu alerta só por si, não resolveria nada, se não fosse a solidariedade de muitas pessoas, na maioria anónimas, de Portugal e também do estrangeiro, que prontamente aderiram ao meu apelo.

Pessoalmente, gostaria de agradecer, pela importância que tiveram para o êxito deste caso;
ao Dr. João Oliveira de Caldelas, à Câmara Municipal de Amares,
à Dra. Fátima Fernandes, ex-acessora do Governo Civil de Braga,
aos inúmeros amigos e desconhecidos, que se prontificaram a ajudar.
Margarida, Sr. Domingos Silva e Nuno Araújo da Associação de Invisuais de Braga e por último o José Silva


Por último, ao Sr. Domingos Silva, e à sua Associação de Invisuais, pelo apoio constante e persistente, dado ao Sr. José Silva e sua filha Margarida. Pois, conseguiram tirá-lo de uma depressão profunda e afastar-lhe a ideia mórbida do suicídio, que o acompanhava.

Fizeram que ele voltasse a ter auto estima, ofereceram-lhe formação profissional, e a coisa mais importante; a vontade de continuar a lutar e viver.

Como é do conhecimento geral, o dinheiro arrecadado não chegou a ser utilizado na intervenção cirúrgica.

Recordo, que a operação, foi totalmente suportada pelo Centro Oftalmológico de Coimbra e pelo seu director, Dr. Travassos.

Assim, chegou a ser equacionada a possibilidade de devolver as dádivas, mas surgiu um grande problema; a grande maioria, eram dádivas anónimas. Por esse motivo, optou-se pela compra de um apartamento para a família, que como se sabe, viviam com os avós paternos em condições precárias.

A todos, amigos, anónimos, instituições e Comunicação Social, o meu muito obrigado.

Manuel Araújo