É natal
É natal de sonhos
Natal de desgostos
Natal de beijos
Natal de abraços .
É natal dos grandes
Natal dos pequenos
Natal dos graúdos
Natal dos miúdos .
É natal de ricos
Natal de pobres
Natal nas luzes em todos os cantos
Natal nos brinquedos e seus encantos.
É natal nas compras
Natal nas esmolas
Natal de farras nas mesas recheadas
Nas panças inchadas e goelas regadas .
É natal nas barrigas vazias
De ar insufladas
Natal que depressa vem para quem muito tem
E depressa vai para quem pouco ou nada tem .
É natal dos amigos sinceros
Natal dos amigos fingidos
Natal dos lambe-lambe
Botas e cus de gente.
É natal por um dia
Mas é um dia cheio de natal!
E o dia do dia seguinte, já é um dia
Igual aos outros dias . Um dia sem natal!
E então, o rico regressa ao seu lindo e cheio palácio.
Pelo prazer da posse de tudo que quis, inchado!
Mas vazio
Do natal já esquecido.
O pobre regressa ao seu casebre triste e frio .
Desconsolado
Talvez desesperado
Pela lembrança dos dias e dias em que foi lixado.
E à rua, à casa de cartão, regressa o sem abrigo
Vazio do contágio a que chamam „ espírito natalício „
O azar ou o vício lembrando
Contra todos e tudo lutando.
Carmindo de Carvalho
Dezembro de 2002
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