Manuel Araújo
— Jorge, como é que tudo começou?
Jorge Rodrigues — Na verdade desde muito cedo, teremos mesmo que remontar a tenra infância, pois desde que me conheço sempre aproveitei as matérias-primas e as ideias que a natureza deixava ao meu dispor, assim começamos o curso de engenharia para a vida, comigo aconteceu.
— Porquê também as “casinhas do Gerês?
JR — Desde cedo também, desejei conhecer além do que a vista alcança, e cedo descobri por mim a beleza que a aquela cordilheira ostentava, uma espécie de solo sagrado, onde a inspiração se sente nas veias do corpo.
A arquitectura rural nas serranias confunde-se com a própria ternura da paisagem, o granito sobrevive na imensidão do tempo, o homem molda-o na imensidão do espaço, assim comecei a criar as minhas casas em miniatura com matéria prima natural, o granito, inspirado nas mais belas e encantadoras aldeias que me saltavam á vista.
— As esculturas em madeira que crias representam o mundo da fantasia. Em que contexto as enquadras?
JR — Elaborei alguns textos mas tenho como mais esclarecedor o que passo a citar:
“As lendas dos duendes e gnomos das florestas montanhosas, são tão antigas como a história das culturas que nos precederam.
Dos Celtas, ficaram as mais belas fantasias destes pequenos habitantes que guardam os segredos da Natureza e a protegem do infortúnio. Das encostas e vales do Gerês sonham com o vento, voam com as águias e reúnem nos pequenos e idílicos prados, dos planaltos de encantar.
O corte da goiva, deixa sonhos do vento que por lá passou e olhares de sol poente...
A madeira vive para além da morte...
O universo é infinito...
Cada trabalho é único em homenagem à Natureza... “
— Como defines a tua Arte?
JR — Vou tentar definir pelo que sinto em relação ao que crio em paralelo com o retorno do publico, uma arte que tem sempre por base algo que a natureza através do tempo trouxe até mim, onde a minha função é atribuir-lhe beleza e “sentimentos”, essencialmente figurativa mas com uma forte componente naturalmente criada.
— Qual a importância da tecnologia no artesanato?
JR — È de grande importância. No meu caso o processo de trabalho é 100% manual, trabalho com goivas que cortam segundo a minha vontade e criatividade, não é precisa tecnologia, mas para ter entrada no mundo globalizado a tecnologia é fantástica.
— Consideras o resultado do teu trabalho, arte, ou objectos de consumo?
JR — Na verdade não são objectos consumíveis, são esculturas ou composições esculpidas que transmitem emoções.
— Durante os últimos anos, tens criado e vendido um vasto leque de belas obras. De todas elas, existe alguma que se destaque de entre as demais e porquê?
JR — A pergunta desperta a saudade de algumas peças que realmente me marcaram e que recordo por vezes, mas são bastantes, é difícil eleger uma, contudo tenho um aldeamento de casas de granito em miniatura que além de ter sido premiado em concurso, leva de mim um grande valor sentimental.
— Que achas do estado actual da escultura portuguesa. Os artesãos, são apoiados por alguma entidade pública ou privada?
JR — Penso que Portugal está a perder de dia para dia um património cultural nesta área que jamais conseguirá reparar, julgo assim responder com pesar ás duas questões.
— Nos moldes actuais, a Arte de esculpir tem futuro?
JR — Acho que não vai passar muito tempo para que se comecem a valorizar as coisas que são realmente genuínas, essa valorização hoje já existe por parte de muitas pessoas exigentes e conhecedoras. É necessário marcar diferença.
— Vives exclusivamente do artesanato?
JR — Posso dizer que sim embora me complemente com outras actividades.
— Onde está situado o teu atelier?
JR — Situa-se em Braga onde vivo, e é o meu espaço pessoal para dar asas á imaginação. Durante os fins-de-semana do Verão o meu atelier fica ao público no hall de entrada da Gelataria do Gerês, onde trabalho e exponho.
— Sei que tens um hobby fora do comum, queres falar dele?
JR — Bem, são vários, na verdade depois dos trilhos pedestres que faço nas serras para recolher matéria prima onde junto o útil ao agradável, reservo algum tempo para o pára-quedismo desportivo como instrutor e para a minha equipa Tri Campeã Nacional de Precisão de Aterragem, para a caça submarina e para o voo em paramotor e sempre aberto ás novidades de aventura.