segunda-feira, maio 22, 2006

António Manuel Ribeiro - UHF - Entrevista


"Mal vai um país, que exuma os seus mortos para se sentir vivo."


Ultrapassou já “ligeiramente” o meio século de idade, nasceu em Almada, na margem sul do Tejo e é o vocalista do mais antigo grupo de Rock português, os UHF, banda, a qual fundou em 1978, juntamente com mais 3 rapazes com vontade de vingar na música: O Américo Manuel (bateria), Carlos Peres (viola-baixo), Renato Gomes (Guitarra) e António Manuel Ribeiro (voz e guitarra).

O primeiro concerto dos UHF foi no dia 20 de Novembro de 1978. No ano a seguir, os UHF já percorriam o país inteiro, chegando mesmo a fazer a primeira parte dos concertos de Dr. Feelgood e Elvis Costello.
















  • - Entrevista de Manuel Araújo em Maio 2006




P — Quantas dezenas de discos já gravaram?

R – Não sei ao certo, mas são muitos, prata, ouro e platina, e a caminho do primeiro milhão. Só no ano passado, por causa do campeonato ganho pelo meu clube, o hino “Sou Benfica” disparou nas vendas e foi um ouro e quatro platinas.

P — O teu último livro foi “Cavalos de Corrida – A Poética dos UHF”. Quantos já publicaste e onde se podem adquirir?

R – Este é o meu terceiro livro, depois de “Todas As faxes de Um Rosto” (2002) e “Se o Amor Fosse Azul que Faríamos Nós da Noite?” (2003). Estão à venda em todas as livrarias ou através da loja virtual do site dos UHF www.uhfrock.com.

P — Quais os trabalhos musicais mais recentes?

R – No ano passado lançámos o CD “Há Rock no Cais”, donde saiu o mega sucesso “Matas-me Com o Teu Olhar”. Este mesmo CD será reeditado no final de Maio em formato duplo. O novo single chama-se “Apetece Namorar Contigo em Lisboa”.

P — Projectos imediatos?

R – Estamos a preparar uma surpresa em disco por causa do Benfica e já estamos em digressão. A 18 de Junho, estaremos, por exemplo, em Paris. De resto a agenda está sempre actualizada no nosso site. Nos concertos dos Coliseus iremos gravar o nosso primeiro DVD ao vivo.

P — Os espectáculos mais esperados do ano são nos Coliseus de Lisboa e Porto – Quais as datas e locais, da venda de bilhetes?

R – Iremos fechar a digressão do verão 2006 nos Coliseus de Lisboa (23 de Setembro) e Porto (5 de Outubro). Os bilhetes estão à venda nos locais habituais, no site da FNAC Portugal e noutras lojas virtuais. Os nossos fãs, que fazem parte do Clube, terão um acesso especial, mais barato.

P — O arranque da digressão 2006 já começou... queres falar um pouco dela?

R – Até agora só demos três concertos: Lisboa (para o mundo via RDP Antena Um), Braga e São João da Pesqueira. Em Braga, no dia 21 de Abril, sob um a chuva copiosa ninguém arredou pé. Isso marcou-me, assim como um sinal para a rodagem de repertório que iremos fazer até aos Coliseus.

P — Qual a música e o espectáculo mais importante da tua carreira?

R – Não há. As coisas não são assim. Estou a caminho dos 28 anos de carreira. Não há um concerto, são muitos e muito bons. Com quase 300 canções escritas já não sei isolar uma apenas.

P — O que pensas do actual panorama da música portuguesa?

R – Não penso grande coisa, mas eu também não sou nem um alinhado nem um pedinte – não sou politicamente correcto. Como em quase tudo no nosso país, se as coisas estão mal, os autores somos nó, falando de uma perspectiva interna. Externamente estamos a sofrer com a nova era da pirataria informática, como em todo o mundo. Para um mercado curto e frágil tudo se torna mais difícil.

P — O que se ouve na rádio em Portugal?

R – Vou usar uma expressão do dia a dia: a rádio está uma chatice. Estamos na era dos consultores externos (leia-se estrangeiros) que impõem uma programação feita de canções com 10, 15 e até 30 anos. As novidades de hoje andam escondidas. Tudo isto é demasiado cómico se não fosse demasiado sério.

P — A aplicação da nova Lei, que obriga as rádios a passar mais música portuguesa, já se faz sentir?

R – Não faço a mínima ideia. Pessoalmente não sinto esse crescendo. E é muito estúpido n o país Portugal ter de haver uma lei para se ouvir música feita pelos nativos. Em Portugal andamos assim, a recuar, com medo, sem desígnio.

P — A Música em Portugal é apoiada por alguma instituição?

R – Não, nem tem que ser. A música é um produto, inserido numa indústria, representa a cultura de cada tempo e deve ter livre acesso à divulgação: foi para isso que se inventou a rádio. Já agora, para nos rirmos um pouco: que tal os noticiários passarem as notícias do passado e os anúncios serem do outro século?

P — A repressão, ultimamente efectuada pela Polícia Judiciária, contra os “piratas dos downloads” de música, irá traduzir-se no aumento de vendas?

R – Não sei, penso que não. O problema português e á falta de dinheiro para comprar o chamado “produto cultural”. É a diferença entra os visitantes de uma FNAC em Paris que andam com um cabaz às compras e uma FNAC de Lisboa com pessoas a ouvir e a lerem de borla de uma forma continuada. A actuação da PJ sobre a pirataria dos downloads vai no seguimento daquilo que há muito se faz no resto do mundo civilizado.

P — Não serão os 21% do IVA, que torna o valor do CD impeditivo para muitas bolsas e “ajuda” a fomentar a “pirataria”?

R – Para um país de tantas fragilidades culturais, era bom o governo percebesse que o disco não é um produto diferente do livro, apesar do primeiro ter um IVA de 21% e o segundo de 5%. Não se geram mais receitas em impostos: geram-se novos esquemas para obter o disco sem pagar nada aos autores, aos artistas e… pasme-se, ao Estado. É uma questão básica e primária.

P — Na perspectiva do comprador, valerá a pena comprar um CD novo, se passados uns dias em “promoções”, se pode adquirir esse mesmo CD, a metade do preço?

R – Escrevi sobre essa matéria há um mês no blogue Canal Maldito, provocando a ira dos pequenos patrões da nossa indústria musical. Vivem com um sonho: pode ser que pegue e se pegar, pagam. Volta Eça de Queirós, o país continua saloio.

P — Sei que privaste como poucos, com o meu vizinho António Variações, com a sua inexperiência, extravagância e timidez e também o seu primeiro espectáculo público na Feira Popular, que parece não ter corrido muito bem... Tantas estorias, que ficaram certamente por contar... e não as soubeste ou quiseste “humanamente” aproveitar... Queres desvendar um pouco quem foi o verdadeiro António Variações e o porquê do “boom Variações”, passados todos este anos após a sua morte?

R – Numa canção que gravei em 93 escrevi: “O bom poeta / é um homem morto / tudo lhe presta / e dói-lhe pouco.” E podia ficar por aqui. Mas acrescento: todos os dias em todo o mundo se procuram soluções para vender discos. Portugal não foge à regra. Sobre o António pouco me apetece dizer. Estive lá, estive com ele, lançámo-lo, defendi-o, bebemos copos na noite de Lisboa. O que fazem agora da sua obra secundária e da sua imagem não comento. Mal vai um país que exuma os seus mortos para se sentir vivo.

P — Para terminar, uma palavra para os milhares de fãs dos UHF espalhados por todo o Mundo?

R – Espero que nos possamos encontrar em breve, aí ou aqui, e que juntos façamos a festa que a música representa.

1 comentário:

louis@uriah-heep.com disse...

Hello,

We found out that you played with Uriah Heep on june 7 1980. Thats was a historical gig as it was the last one for Ken Hensley with Uriah Heep. We like to know your memories and possible recordings or photos from that gig. Can you maybe help us out?

Thanks a lot,

Louis Rentrop
webmaster
www.uriah-heep.com