sexta-feira, setembro 02, 2005

Apelo

“Ajudem-me, quero voltar a viver”.

O Adriano, é um jovem, proveniente de uma humilde mas honrada família de Barcelos.
Entrou muito novo no mundo da ilusão da droga, pela mão de “amigos” que o convidaram a experimentar a “inofensiva erva”, os anos passaram, as doses foram aumentando e hoje, após ter passado por todas as drogas, a heroína já é “leve”.

O Adriano, hoje com 32 anos, está cansado da vida auto-exclusão a que foi votado.
Está revoltado e arrependido de todas os erros cometidos. Quer pedir perdão ao amigos, familiares, conhecidos e desconhecidos, quer redimir-se. - “ Não posso continuar assim!” - Garante com voz firme.

O Adriano afirma-se convicto, que chegou a uma fase, em que só vê dois caminhos a seguir:
1. A mão amiga de alguém, que o encaminhe para um “centro de reabilitação” – “ou mesmo uma prisão”, porque ele está disposto a “sofrer o que for preciso, para sair deste inferno”. E implora: “metam-me onde quiserem, mas ajudem-me!
2. O segundo caminho, é o da morte, - “ prefiro morrer a continuar assim”, - “não aguento mais, o ter de roubar para o vício diário, dormir ao relento, comer restos dos contentores, viver na imundice, enganar os amigos e familiares, o não poder ter uma vida normal, um emprego e o mais importante de tudo, não ter uma família”. “Pode ser, que ainda vá a tempo e me perdoem...” - Declara cabisbaixo e com a voz turvada pela emoção, com uma lágrima que teima correr-lhe pelo rosto.

A história do Adriano, infelizmente, é comum a milhares de portugueses, que diariamente lutam para obter a dose diária e se resignam, sofrem e morrem no silêncio e anonimato. Os que morrem são apenas mais um número para as estatísticas. Nada mais.
Mas o Adriano, decidiu não ser igual a todos os outros, não se resigna, quer lutar, sofrer se for preciso e quer provar a todos, que ainda é possível mudar a vida.
Para o demonstrar, fez já análises clínicas, que orgulhosamente ostenta, onde, nenhuma doença comum a toxicodependentes lhe é diagnosticada. – “Estou limpo, ajudem-me, quero voltar a viver”.

Manuel Araújo
araujo@swissinfo.org

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