sexta-feira, setembro 02, 2005

“Já temos que cortar na comida e nos medicamentos”

Família de deficientes, vive dias de amargura
















O sr. Américo Xavier, septuagenário, mora numa casa arrendada, nos arredores da cidade de Braga. Juntamente com a sua esposa da mesma idade, vive também uma filha.
À primeira vista, uma família como tantas outras, não fossem uma série de factores, que nos levam a pensar o contrário;



A esposa do Sr. Xavier, tem paralisia cerebral e um sem fim de complicações. Está paralisada e prostrada no seu leito e necessita de todos os cuidados, desde a alimentação, higiene e controle da doença.

A filha que vive com eles, de bom grado faria tudo pela mãe, mas não a pode ajudar muito, porque sofre de deficiência física congénita, a qual, não lhe permite “dar as voltas que gostaria”, porque “ela é muito pesada, é um peso morto” e “nós não temos força”, nem dinheiro para pagar a quem nos ajude.

Triste, desanimado e cabisbaixo, o Sr. Xavier conta-nos, que já solicitou ajuda a várias instituições e sistematicamente, todas lhe tem negado o apoio. - “ estou farto de pedir...” – lamenta-se.

Indagado sobre o motivo das recusas, respondeu-nos, que não sabe qual o motivo. Afirma que são doentes, não são “ricos” e vivem da reforma, que é “cada vez mais curta”.

Mas, afirma que não vai desistir dos seus direitos e uma vez mais, esta semana voltou a pedir ajuda aos serviços Sociais. “ Vamos lá ver o que isto vai dar...”

A casa onde vivem “está a necessitar de obras”, porque no Inverno “a água escorre pelas paredes e atravessa o soalho”, é impossível respirar, por causa da humidade.

“Bem gostaria de fazer aqui umas reparações”, mas “também não temos dinheiro”.¬— Lamenta.

O sr Xavier, é pai de oito filhos, a maioria dos quais, já lhes “perdeu o rasto” e talvez já “não queiram saber de nós, mas, os que nos querem ajudar, esses não tem posses”.

A família está no limite do desespero, porque o dinheiro da reforma já não chega, por isso, afirma que já tem - “que cortar na comida e outras vezes nos medicamentos”



Já cansado, sem muitas esperanças, em tom pesaroso e com uma certa raiva, desabafa – “que raio, ao menos que nos paguem as fraldas...”


© Manuel Araújo

araujo@swissinfo.org

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