sábado, novembro 04, 2006

Carmindo Pinto de Carvalho - o Poeta operário


Carmindo Pinto de Carvalho

Nasceu em Nagosa -Moimenta da Beira, a 1 de Novembro de 1955. Em 1966 concluiu o ensino básico, foi camponês, trabalhador à jorna em trabalhos diversos e operário na construção civil. Com dezasseis anos foi para Lisboa, trabalhou como vigilante numa escola privada e posteriormente como empregado num hospital psiquiátrico.

Cumpriu o serviço militar na Marinha. Ao seu serviço viajou por vários países.

Irrequieto, permanentemente inconformado, munido de uma forte curiosidade e cedendo a vários impulsos deixou-se levar e em serviço ou lazer, pisou já cerca de vinte países. Em 1985 emigrou para a Suíça.

Depois de trabalhos diversos, fixou-se numa fábrica de tubagens metálicas e durante uma dezena de anos abraçou a vida associativa. Com paixão, deu muito do seu tempo e da sua “pele” tendo desempenhando vários cargos.

A necessidade da escrita surgiu-lhe tarde, já depois dos trinta anos. Recusou escrever para a gaveta, entrega ao vento, a leva dos seus trabalhos pelos cantos do mundo e algumas centenas, já foram publicados em vários órgãos da Comunicação Social.

É casado, tem três filhas e vive em Rorschach - Suíça e deu-nos nesta entrevista o seu ponto de vista no que se refere às dificuldades editoriais, mas não só.


Manuel Araújo




Quais os objectivos futuros ?

Conseguir acabar e editar um livro que será uma grande salada de: diário, critica social, crónica, prosa poética e conto. Será um pouco disto tudo, ou no seu conjunto, devido à sua defeituosa confecção, será algo de impróprio, um aborto, nada de nada .

Porque diz isso ?

O que criei até agora foi só Poesia. Este é outra coisa. Devido às minhas limitações literárias, estou a ter uma grande dificuldade para criar os diálogos. Tenho só a quarta classe e fez já quarenta e cinco anos que a tirei . Uma vez ouvi alguém dizer : — ” Está sempre a falar na sua quarta classe...” — E é verdade que sim, estou, mas é só com a intenção de que, isto sabendo , as pessoas sejam comigo condescendentes, e melhor tolerem os possíveis erros, que os meus escritos possam ter .

Existe algum apoio governamental à edição e criação?

O Estado, dizem que é pai de nós todos, mas afinal é só de alguns .
Assim como?

Alguns criadores de várias formas de expressão, dita de arte, são considerados filhos e logo adoptados e apoiados em projectos megalómanos, inúteis, ou prenhes de insanidade mental.

Quer dar algum exemplo?

Veja-se como exemplo, aquela versão da Branca de Neve e os Sete Anões, da qual saiu uma coisa a que o realizador, João César Monteiro chamou de filme. Mas como se pode chamar filme a uma coisa que não tem imagem? É como mostrar a pista sem carros e chamar de grande prémio de fórmula um. Eu acho uma grande aberração feita por um maluco, mas o pior, é que o dinheiro gasto não era dele, era de todos nós ! Os restantes são enjeitados. Que se desenrasquem. E é o que eu faço. Acabei de abdicar de três semanas de férias num lugar qualquer paradisíaco, para o qual poupei e investi no meu terceiro livro individual. Fiquei aqui em casa a “tirar o pó”, aos livros, aos discos, que sossegados me esperavam. No computador, a ver cinema em casa e a dormir sestas. E assim, as férias e o tempo fugiram! Acabou ! Para mim foi fácil porque tenho muitos hobbies.

E não teve saudades das férias?

Sim, tive momentos em que tive saudades de tantas coisas que costumo ter e encontrar nas férias. Na ausência de mar, fui molhar o grelo à piscina cá da terra. Nesses momentos, senti-me torturado pelo meu país e seus governantes, tal como disse recentemente uma Senhora muito conhecida !. Nesses momentos senti-me num casulo, torturado e à força enclausurado .
Pois, o Estado através dos seus serviços, deveria criar eventos, onde os autores se pudessem mostrar e onde os “olheiros”, fossem pescar os talentos e a partir daí, serem encaminhados e apoiados.

E não são ?

É claro que há algo parecido, levado a efeito por associações tais como; ¬— a APE e outras que atribuem prémios etc, mas penso que aí só há lugar para tubarões e por este andar nunca haverá para sardinhas nem carapaus.

E as Editoras ?

As editoras ? Então essas nem é bom falar… , dão-me vómitos ! Como firmas que são, à caça do lucro fácil e rápido, só apostam em nomes sonantes, em autores já conhecidos e reconhecidos. Até agora ninguém me indicou portas onde eu pudesse conseguir , algo em forma de apoio à edição e criação. Uma vez estabeleci uns contactos com um responsável do Consulado Português de Zurique, para obter informações de como me candidatar.

E não se candidatou?

Foi-me dito isto e mais aquilo, que tinha que preencher formulários, enviar amostras de trabalhos que seriam sujeitos a um parecer prévio e obrigatório do Sr. Cônsul, e posteriormente tudo aquilo seria encaminhado. Tudo isto me pareceu muito complicado e demorado até obter uma resposta, devido às portas, e corredores que tinha que percorrer. Desisti.

E as Associações Culturais não apoiaram ?

Por aqui, as associações, clubes etc., é que poderiam e deveriam fazer muito a nível da divulgação, estimulando e incentivando . Mas essas, devido à apatia geral, (ou quase) que se instalou nos vários núcleos da nossa comunidade, apenas organizam torneios de futebol, cartas e matraquilhos. Que me perdoem todos os amantes destas modalidades, que têm com certeza valor e são também de apoiar, mas há muito mais que se poderá fazer, sem tirar nem invadir o lugar de nada nem ninguém. Assim queiram as cabeças pensantes. Ao dizer isto sei que estou a remar contra a maré, pois que a maioria sente-se feliz com uma cerveja e uma cartada na mão. Afinal, se para eles está tudo bem, então eu é que estou deslocado, desfasado, no espaço e no tempo.


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A critica

Entre as inúmeras criticas favoráveis e por uma questão de espaço publicamos apenas um excerto da critica do conceituado Dr. José Cunha Rodrigues:

... os seus poemas, além de serem um extraordinário alerta para a consciência de cada um, denotam de sua parte uma grande coragem, fé e persistência. Uma capacidade de sondar o insondável, ou seja, para além do horizonte, mesmo quando ele (a)parece esborratado e fragmentado. As pessoas (como é o meu caso) deviam estar atentos à dinâmica empreendedora e determinada de homens como você, que constituem um bom exemplo do que é o espírito combativo. Como sabemos, num universo onde se impôs a ditadura do mau-gosto; é um prazer de verificar que ainda há quem reme contra a corrente. Quero, porém, felicitá-lo pela elaboração do seu livro de poesia ' Entre o ter e o querer", humanamente irrepreensível. Para quem o conhece e me tem falado de si, é aquilo que realmente importa: um espelho da sua personalidade - límpida e despretensiosa (não obstante “o fruto dos seus quatro anos de carteira e andarilho", que não têm qualquer importância para mim ?!?). Fiquei especialmente surpreendido (no que me diz respeito, penosamente surpreendido...) com as sua Introdução (Aviso à navegação"), tão eloquente e admiravelmente honesta. Muitos, muitos parabéns. Claro que me permito discordar do seu comentário (ainda na introdução) quando diz que (...) o resultado é com certeza uma grande “chachada", pois, ao contrário do que é habitual dizer-se, para mim a verdade é que "DE GUSTIBUS EST DISPUTANDUM???" Por tudo isto, aceite desde já os meus sinceros cumprimentos. Um abraço amigo, José Cunha Rodrigues.


Post Scriptum:

Um breve comentário ao seu livro " Entre o ter e o querer": O Carmindo é, em abono da verdade, um homem com vocação para a poesia. Apesar dos seus "quatro anos de carteira e andarilho", a sua escrita honesta e despretensiosa, têm o poder retumbante de sacudir de uma forma corajosa e ímpar as adversidades que a vida lhe foi dando. E um poeta nato, um pessimista convicto, um optimista prolixo. Saboreando a sua "caldeirada de palavras ", descobrimos paladares deliciosos, um saibo indescritível, maravilhoso e contagiante. Quem prova, jamais esquecerá.


José Cunha Rodrigues

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Bibliografia

Entre o Ter e o Querer, Editorial Minerva 2000
Entre os Quês e os Porquês, Editorial Minerva 2002
Mensageiro da Poesia Volume I
Mensageiro da Poesia Volume II
Mensageiro da Poesia Volume III
Editados pelo Mensageiro da Poesia , Associação Cultural Poética . Antologias de vários autores .
Da Outra Margem -Antologia Poética de vários autores da Diáspora , residentes em vários países e continentes. Edição Instituto Camões. Lançada em Genebra aquando da feira internacional do livro e da imprensa, em 2001
Elos da Poesia _ Colectânea de poemas de autores de língua Portuguesa, recolha feita na NET pelo Grupo - Elos da Poesia - Lançado em Lisboa e em vários locais no Brasil .
Ecos da Poesia I , lançado pelo grupo da Net - Ecos da Poesia _. Autores vários, lançado em Lisboa e Brasil.
Dois povos um destino - do grupo da Net - ECOS da POESIA- lançado em Lisboa e Brasil .
A caminho estão:
ELOS da POESIA Volume II
Terceiro livro individual - Entre Ondas de Ar e Amar - a editar pela ABRALI, BRASIL.






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