sexta-feira, dezembro 08, 2006

É muito estúpido no país Portugal ter de haver uma lei para se ouvir música...


António Manuel Ribeiro - UHF
"É muito estúpido no país Portugal ter de haver uma lei para se ouvir música..."





Após vários anos sem pisar os palcos dos Coliseus, António Manuel Ribeiro, cantor, compositor, poeta, músico e timoneiro do mais antigo e carismático grupo de Rock português em actividade, os UHF, levaram recentemente ao rubro os fãs que preenchiam as salas, conseguindo agregar três gerações pais, filhos e netos, vivendo todos eles momentos de euforia. Ao lado de António Manuel Ribeiro, estiveram António Côrte-Real na guitarra, Fernando Rodrigues, baixo e Ivan Cristiano na bateria. De referir, que parte das receitas arrecadadas dos concertos, reverteram a favor da missão da AMI no Líbano.




Manuel Araújo



 — Quantos anos de vida tem já a vossa banda, onde nasceu?

António Manuel Ribeiro - Os UHF começaram há 28 anos atrás, entre a cidade de Almada e a vila da Costa de Caparica.

 — São então, a banda Rock mais antiga de Portugal?

AMR - Sim, neste momento somos o grupo mais antigo em actividade.

 — Actualmente quem são os elementos dos UHF?

AMR - O quarteto é formado pelo António Côrte-Real (guitarra), Fernando Rodrigues (baixo), Ivan Cristiano (bateria) e por mim.

 — Desde o vosso início como banda, quantos trabalhos já publicaram?
AMR – Não sei ao certo, mas são muitos, prata, ouro e platina, e a caminho do primeiro milhão. Só no ano passado, por causa do campeonato ganho pelo meu clube, o hino “Sou Benfica” disparou nas vendas e foi um ouro e quatro platinas.

 — Qual o trabalho discográfico e o espectáculo mais marcante da tua carreira?

AMR – Não há. As coisas não são assim. Estou a caminho dos 28 anos de carreira. Não há um concerto, são muitos e muito bons. Com quase 300 canções escritas já não sei isolar uma apenas.

 — O teu último livro foi “Cavalos de Corrida – A Poética dos UHF”. Quantos já publicaste e onde se podem adquirir?

AMR – Este é o meu terceiro livro, depois de “Todas As faxes de Um Rosto” (2002) e “Se o Amor Fosse Azul que Faríamos Nós da Noite?” (2003). Estão à venda em todas as livrarias ou através da loja virtual do site dos UHF www.uhfrock.com.

 — Catorze anos depois, e a fechar a digressão 2006 com chave de ouro, os UHF voltaram aos Coliseus de Lisboa e Porto. Como foi e qual foi a sensação?
AMR - Foi bom e foi mágico para nós e para os fãs. Sabes que nós podemos andar um ano inteiro a dar grandes concertos por aí, mas se não vamos àquelas salas míticas parece que nada acontece. Aproveitámos também para gravar os dois concertos para DVD (Lisboa) e CD (Porto).

 — Esse CD e o DVD que referes, quando vão ser comercializado e onde se podem adquirir?

AMR - A edição do DVD+CD só acontecerá em 2007, provavelmente depois do verão, com outro grande concerto. A sua aquisição é naturalmente feita nas lojas especializadas.

 — E agora, como vês o futuro, que projectos?

AMR - Há muito que vejo o futuro através do presente – chama-se a isso o eterno momento do agora. É evidente que tenho, temos, vários projectos para coisas que queremos fazer – uma digressão acústica no inverno, dois a três discos de estúdio e outras coisas como continuar a escrever livros, no meu caso pessoal. Mas aprendi a tempo que, se não vivermos um dia de cada vez, soçobramos na ansiedade da interrogação que é o futuro. É um defeito educacional que já ultrapassei.

 — O que pensas do actual panorama da música portuguesa?

AMR – Não penso grande coisa, mas eu também não sou nem um alinhado nem um pedinte – não sou politicamente correcto. Como em quase tudo no nosso país, se as coisas estão mal, os autores somos nó, falando de uma perspectiva interna. Externamente estamos a sofrer com a nova era da pirataria informática, como em todo o mundo. Para um mercado curto e frágil tudo se torna mais difícil.

 — Crês que, após a aplicação da nova Lei, que obriga as rádios a passar mais música portuguesa, o panorama musical se alterou?

AMR – Não faço a mínima ideia. Pessoalmente não sinto esse crescendo. E é muito estúpido n o país Portugal ter de haver uma lei para se ouvir música feita pelos nativos. Em Portugal andamos assim, a recuar, com medo, sem desígnio.

 - A Música em Portugal é apoiada por algum organismo ou instituição?
AMR – Não, nem tem que ser. A música é um produto, inserido numa indústria, representa a cultura de cada tempo e deve ter livre acesso à divulgação: foi para isso que se inventou a rádio. Já agora, para nos rirmos um pouco: que tal os noticiários passarem as notícias do passado e os anúncios serem do outro século?

 — A repressão, ultimamente efectuada pela Polícia Judiciária, contra os “piratas dos downloads” de música, já se reflectiu no aumento das vendas?

AMR – Não sei, penso que não. O problema português e á falta de dinheiro para comprar o chamado “produto cultural”. É a diferença entra os visitantes de uma FNAC em Paris que andam com um cabaz às compras e uma FNAC de Lisboa com pessoas a ouvir e a lerem de borla de uma forma continuada. A actuação da PJ sobre a pirataria dos downloads vai no seguimento daquilo que há muito se faz no resto do mundo civilizado.

 — Não serão os 21% do IVA, que torna o valor do CD proibido para muitas bolsas, que ajuda a fomentar a “pirataria”?

AMR – Para um país de tantas fragilidades culturais, era bom o governo percebesse que o disco não é um produto diferente do livro, apesar do primeiro ter um IVA de 21% e o segundo de 5%. Não se geram mais receitas em impostos: geram-se novos esquemas para obter o disco sem pagar nada aos autores, aos artistas e… pasme-se, ao Estado. É uma questão básica e primária.

 - Na perspectiva do comprador, valerá a pena comprar um CD novo, se passados uns dias em “promoções”, se pode adquirir esse mesmo CD, a menos metade do preço?

AMR – Escrevi sobre essa matéria há um mês no blogue Canal Maldito, provocando a ira dos pequenos patrões da nossa indústria musical. Vivem com um sonho: pode ser que pegue e se pegar, pagam. Volta Eça de Queirós, o país continua saloio.

 — Se não fosses músico, que outra profissão escolherias?

AMR - Não sei, lá vem a questão de há pouco: se vives o eterno momento do agora, também não olhas para trás, não te lamentas, passaste, aprendeste, experienciaste, segue o teu caminho. Eu gosto de ser músico, compositor, escritor. Vivi com a música um crescimento pessoal fantástico. Por isso voltaria a escolher ser músico-escritor.

 — Para terminar, uma palavra para os fãs dos UHF espalhados por todo o Mundo.

AMR - Através do sítio www.uhfrock.com vamos continuar o diálogo. Espero sempre poder estar num palco perante vós. Abraço.

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